Os gatos são animais de uma inteligência extraordinária, naturalmente curiosos e ativos. E têm vindo a conquistar um lugar nos nossos corações e nos nossos lares.
Também eles são fiéis companheiros e merecem todo o respeito pela sua natureza singular, mesmo que os mantenhamos agora apenas dentro de quatro paredes. Porque apesar deste seu novo habitat, o seu comportamento não se afastou assim tanto do seu ancestral selvagem.
E se queremos garantir o seu bem-estar, temos de atender às suas necessidades particulares e providenciar um ambiente estimulante. Este enriquecimento ambiental irá fazer a diferença para todos os membros da nossa família, especialmente os felinos, contribuindo para uma vida mais saudável e feliz.
Porque é tão importante fazer este enriquecimento ambiental?
Os requisitos ambientais dos nossos felinos domésticos não se resumem apenas ao seu espaço físico, seja ele interior ou exterior, ou mesmo uma combinação de ambos. Há que ter em conta também o papel da interação social, incluindo a associada ao contacto humano.
Os gatos não exprimem frequentemente sinais óbvios de stresse. E na grande maioria dos casos, o seu enriquecimento ambiental só é (re)considerado quando adotam comportamentos que atraem a nossa atenção. Nunca pelos melhores motivos – são os que rotulamos de maus, inapropriados ou agressivos, desde urinar fora da caixa, arranhar os móveis, esconder-se e até ser conflituoso.
Muitos acabam mesmo por desenvolver condições ou patologias induzidas por esta constante ansiedade, tais como problemas urinários, respiratórios, dermatológicos e até obesidade.
Mas ao antecipar e suprir proativamente as suas necessidades específicas, é fácil evitar os estímulos responsáveis pelas consequências comportamentais e médicas indesejadas.
Quando começar o enriquecimento ambiental?
Quem nunca se deixou levar por um impulso do momento? Sobretudo quando se trata de adotar um novo melhor amigo felino. Infelizmente, só ponderamos este assunto mais tarde. Apercebemo-nos tarde demais, uma vez feita a adoção e já com alguns sinais de alerta por parte do nosso gato.
Por isso, o ambiente deve ser preparado o mais cedo possível. Querseja para uma mudança de residência ou chegada de um novo gato a casa. E devemos procurar aconselhamento médico-veterinário antes de qualquer alteração na estrutura familiar existente.
Como fazer o enriquecimento ambiental?
Os planos de enriquecimento devem ser sempre adaptados a cada caso e há que ter em conta aspetos como a idade, o grau de socialização, quaisquer condições médicas pré-existentes (e as suas limitações/desafios) e as respostas comportamentais que o gato possa já ter apresentado (mais ativas ou passivas).
1. Espaço Físico
Qualquer que seja o tamanho da casa ou jardim, o mais importante é que o nosso felino sinta que tem total controlo sobre o mesmo. Um espaço livre de pressão e medo, onde a normal rotina diária lhe traga tranquilidade. Um espaço que ele possa adotar e reconhecer como território familiar.
Nesse ambiente, os lugares pelos quais ele desenvolver preferência – as suas zonas de descanso – devem estar sempre disponíveis e ser de fácil acesso, longe de ruídos ou outros elementos perturbadores.
Além disso, devemos privilegiar a existência de pontos verticais e alguns esconderijos ao nível do chão (debaixo de uma cama, sofá ou mesa, ou até uma simples caixa de cartão), porque funcionam como excelentes aliados para um ambiente mais tranquilizador.
Para os lares com mais do que um gato o desafio é maior, principalmente quando partilham a mesma divisão, logo é importante providenciar diferentes espaços para evitar que haja competição por recursos.
Já o acesso ao exterior, no que seria o seu ambiente natural, é recomendável desde que seja possível garantir a sua segurança. Muitas vezes, bastará a colocação de vedações para impedir que fiquem demasiado expostos, mas o recurso ao peitoral e à trela, se previamente treinado, pode ser uma opção mais segura.
2. Alimento e Água
Os gatos podem ser demasiado exigentes com o seu alimento e ingestão de água, mas a recusa destes recursos pode estar também associada a ameaças ambientais.
Dessa forma, e por terem evoluído como caçadores solitários de presas pequenas, é preferível que as tigelas de comida sejam individuais e colocadas em locais estratégicos, bem tranquilos, longe da vista de olhares indiscretos e equipamentos ruidosos.
Como fazem pequenas refeições mas várias vezes ao longo do dia, o seu alimento também deve ser dispensado de forma equilibrada, com controlo da quantidade, numa combinação de dieta seca e húmida.
Não esquecer que a oferta disponível no mercado, apesar de nutritiva, pela sua apresentação e livre acesso raramente promove a expressão normal dos seus comportamentos de exploração e caça.
No entanto, são já inúmeras as opções de puzzles ou objetos similares para dispensa de alimento, que tentam colmatar esta vida doméstica. Alguns até podem ser construídos por nós, desde que haja imaginação e capacidade artesanal.
Importa ainda lembrar que os pontos de água devem ser frescos (o que pode ser conseguido com a utilização de fontes para o efeito) e também em número considerável para estarem dispersos pelo ambiente.
3. Caixas de Areia
Atualmente, a oferta é muito variada e inclui diferentes formas, cores e tamanhos, o que dificulta ainda mais a nossa seleção. Mas alguns elementos chave mantêm-se essenciais:
- Privilegiar caixas largas e abertas, que permitam a normal sequência de eventos na eliminação felina e não aprisionem os cheiros, removendo a vantagem olfativa na aproximação de outros animais durante a sua utilização;
- Ter em atenção que as caixas de auto-limpeza, apesar de mais higiénicas, devido ao seu barulho e movimento podem fazer com que o gato as evite;
- Posicioná-las em locais seguros e calmos, longe do alimento e da água, e de forma a que nunca fiquem bloqueadas;
- Escolher o tipo de areia consoante a preferência do gato, com uma excelente capacidade de absorção e em quantidade suficiente para que consiga cobrir as suas eliminações;
- Garantir a sua limpeza diária e completa substituição a cada semana (dependendo do número de felinos que as utilizam), e evitar o uso de produtos muito ativos para essa função;
- Por último, mas não menos importante, garantir que existe pelo menos uma caixa por felino em lares com vários gatos (e idealmente, colocá-las fora do mesmo campo de visão).
4. Sistema Social
Os gatos são normalmente rotulados como solitários mas quando partilham o mesmo espaço com outros animais (felinos ou não) e humanos, e desde que o enriquecimento ambiental seja o adequado, podem formar e manter grupos familiares estáveis.
Por isso, não é assim tão raro que se aninhem em nós ou noutros animais, e até com estes brinquem ou partilhem momentos de higiene mútua. Mas deverão ser sempre eles a definir o tipo e a duração dessa interação, para que se sintam no controlo da situação.
Quando as relações não são próximas, em casos de insuficientes ou inadequados recursos ou abruptas alterações à rotina, surgem frequentemente situações de stresse. E muitos gatos tentam contorná-las com diminuição da sua atividade ou evitando os estímulos ameaçadores, como outros felinos.
Em casos mais graves, este conflito pode tomar diferentes proporções com expressão de sinais notórios – miados ruidosos, perseguições, patadas, arranhadelas e lutas sérias com mordeduras. Estas situações devem ser de imediato reportadas ao nosso veterinário de confiança. O correto aconselhamento aliado à prescrição das muitas soluções já existentes no mercado, fazem toda a diferença nestes processos.
5. Atividade e Expressão Corporal
Os gatos têm comportamentos muito característicos como arranhar, mastigar, morder, roer e brincar, mas mesmo no interior das nossas casas devem poder expressá-los naturalmente.
Claro que não achamos muita graça quando essas manifestações acontecem com os nossos preciosos móveis ou decorações, e por isso é tão importante que tenham condições e artigos adequados para o efeito.
Assim, devemos disponibilizar:
- Arranhadores diferentes e apropriados, preferencialmente verticais e perto das suas áreas de descanso;
- Plantas ou ervas gateiras que possam cheirar e mastigar, desde que seguras para a sua saúde (confirmar sempre que não são tóxicas);
- Brinquedos e parques de diversão que lhes permitam desenvolver as normais atividades predatórias como emboscada, perseguição, ataque e captura. Podem ser artesanais mas variados e alternados a cada semana. Destacam-se os brinquedos que se podem atirar ao ar, os que nos permitem manter uma distância segura para as suas garras e dentes e os que estimulam os seus rápidos reflexos, como feixes de luzes. No fim de cada jogo, para evitar frustração, devemos sempre recompensá-los pela caça com um ‘miminho’.
Os gatos são animais verdadeiramente especiais, de alma selvagem, e a única forma de lhes darmos a melhor experiência de vida ao nosso lado, além do amor, é respeitar a sua natureza e providenciar o melhor ambiente possível – seguro, confortável, nutritivo e estimulante!