Fala-se muito sobre doença do carrapato, entretanto muitos não sabe que o carrapato pode transmitir três patologias distintas aos cachorros, e muitas outras aos homens e outras espécies.
Entre as doenças de carrapato mais comuns nos cães, estão:
- Erliquiose – Doença infecciosa grave, transmitida pela picada de um carrapato infectado, pela bactéria, do gênero Ehrlichia. Causa febre, perda de apetite, perda de peso e vômito.
- Babesiose – Causada por um protozoário, o Babesia canis. A Babesiose é uma doença transmitida pela picada de um carrapato infectado. Ela invade os glóbulos vermelhos dos cães e multiplica-se, rompendo-os. Febre e anemia são os principais sintomas.
- Hepatozoonose – É uma doença transmitida por carrapatos, causada por um protozoário do gênero Hepatozoon canis.
Doença do Carrapato – quem é o transmissor?
Parece óbvio responder que quem transmite a doença do carrapato é o carrapato. Entretanto, há diversas famílias e gêneros deste animal, e cada um transmite tipos de patologias diferentes. No cachorro, por exemplo, o maior causador de doenças é o Rhipicephalus sanguineus.
Entendendo melhor o carrapato.
Carrapatos são pequenos aracnídeos ectoparasitas hematófagos. Costumam infestar vertebrados, principalmente mamíferos, aves e répteis.
Há duas famílias de carrapatos:
- Argasidae – carrapatos de corpo macio, que se alimentam de forma rápida, ficam fixados em um hospedeiro por um curto período de tempo, ou seja, normalmente algumas horas ou menos.
- Ixodidae – carrapatos de corpo duro que necessitam dias para completar uma alimentação e permanecem firmemente fixados, geralmente a um único hospedeiro, enquanto se alimentam.
Carrapatos da família Ixodidae são divididos, por sua vez, em cinco gêneros:
- Ixodes,
- Amblyomma,
- Dermacentor,
- Rhipicephalus
- Haemaphysalis.
Os carrapatos destes gêneros são responsáveis pela transmissão de patógenos de grande importância para a medicina humana e veterinária. De fato, cada espécie de carrapato dentro destes gêneros é capaz de transmitir múltiplos patógenos, que podem infectar várias espécies, incluindo cães.
Além disso, um único carrapato pode transmitir simultaneamente múltiplos patógenos a um hospedeiro mamífero, durante sua alimentação.
Rhipicefalus sanguineus – biologia do causador da doença do carrapato em cães.
Como foi mencionado anteriormente, o R. sanguineus, conhecido também como Carrapato Marrom, é a espécie mais comum em cães.
Este carrapato está adaptado às áreas urbanas, podendo ser encontrado no interior das residências. A fêmea, para fazer seu ninho, abandona o hospedeiro e procura lugares altos, sem umidade e com baixa luminosidade, como em frestas, rodapés, batentes de porta, atrás de quadros e embaixo de estrados de camas. Este tipo de carrapato não gosta de ficar no chão ou grama.
O ciclo de vida do carrapato possui 4 fases:
- ovo,
- larva,
- ninfa
- adulto.
No cão podemos ver as fases jovens (larva e ninfa) e adulta. Quando não estão no animal, eles se escondem em “ninhos”, onde passam a maior parte da vida. O carrapato não troca de fase sobre o animal, ele sempre faz isso no ambiente, nos ninhos. Normalmente estes ninhos são próximos de onde o animal dorme.
Ao sair do esconderijo, os carrapatos caminham pelo ambiente a procura de hospedeiros para se alimentarem. É mais fácil encontrar os carrapatos no ambiente, geralmente em paredes ou muros, no amanhecer ou entardecer, pois são momentos em que o clima está fresco.
Os carrapatos são extremamente resistentes, podem ficar semanas escondidos sem se alimentar, aguardando uma condição de clima mais favorável para saírem em busca de alimento. Eles também são resistentes a produtos de limpeza, por isso infestação não é sinônimo de sujeira.
Doenças do Carrapato – quais são?
Como mencionado na introdução do texto, as doenças do carrapato, em cães, são principalmente três: erliquiose, babesiose e hepatozoonose.
Erliquiose
O gênero Ehrlichia tem este nome em homenagem ao microbiologista alemão Paul Ehrlich. A primeira doença ‘erlichiana’ foi reconhecida na África do Sul durante o século XIX. O reconhecimento de sua transmissão por carrapatos foi determinada em 1900.
É uma doença que se distribui mundialmente e ganhou destaque durante a Guerra do Vietnã, já que muitos cães de militares contraíram a doença na época.
A Erliquiose é uma das principais doenças infecto-contagiosas, causada por um hemoparasita da ordem Rickettsiales e do gênero Ehrlichia spp.
Essa doença é conhecida também como pancitopenia canina tropical, tifo canino, febre hemorrágica canina, doença do cão rastreador e, finalmente, doença do carrapato.
Transmissão
Sua transmissão pode ocorrer pela participação de um vetor, o carrapato Rhipicephalus sanguineus (carrapato marrom), ou por transfusão sanguínea.
O carrapato é contaminado quando se alimenta do sangue de um cão portador de Ehrlichia sp. Depois disso, este agente se multiplica no interior do carrapato mantendo-se vivo por até 5 meses. O carrapato, por sua vez, passa a transmitir a Ehrlichia 3 a 5 dias após a sua contaminação.
A transmissão ocorre por inoculação no sangue, quando o carrapato infectado pica um animal sadio, liberando no local da picada secreções salivares que contêm a Ehrlichia sp, infectando, assim, o animal.
Como mencionado anteriormente, pode também ser inoculada no momento de transfusões sanguíneas, através de agulhas ou instrumentais contaminados.
O mesmo carrapato pode transmitir outras enfermidades, como a babesiose e anaplasmose, que podem ocorrer conjuntamente à erliquiose. O período de incubação varia de 7 a 21 dias, e no prazo de 14 a 28 dias, o animal manifesta a fase aguda da doença
Sinais Clínicos
Os cães infectados com E. canis podem desenvolver sinais brandos a intensos ou até mesmo não apresentar sinais, dependendo da fase da doença em que se encontram.
O diagnóstico clínico geralmente não é o suficiente para confirmação da doença, já que os sinais clínicos podem ser inespecíficos. Portanto, há a necessidade de diagnóstico complementar.
Quando se fala sobre sinais clínicos inespecíficos, fala-se sobre sinais que podem ocorrer em muitas outras doenças. De fato, na maioria das vezes, quando um cão é infectado por Erliquiose e apresenta algum sintoma, ocorre um início abrupto com febre, calafrios, mialgia, fraqueza, náuseas, vômitos, tosse.
Apesar de ser uma doença que pode ser bem severa, o tratamento é simples, e consiste na administração de antibióticos. No entanto, deve ser detectada o quanto antes para o sucesso do tratamento.
Babesiose
A Babesiose, também conhecida como Piroplasmose ou doença do carrapato, é uma afecção parasitária provocada pelo desenvolvimento de hematozoários do Gênero Babesia, destacando-se a Babesia canis e Babesia gibsoni, como principais espécies envolvidas em casos diagnosticados no Brasil.
A primeira espécie de Babesia foi descoberta em 1888 por Victor Babes, um patologista húngaro. O nome do organismo, portanto, deriva do nome de seu descobridor.
A Babesiose tem sido reconhecida há muito tempo como uma doença do gado (tristeza parasitária bovina) e de outros animais domésticos. No entanto, o primeiro caso humano não foi descrito até 1957, quando um jovem agricultor croata contraiu a doença e morreu alguns dias depois de insuficiência renal.
No final dos anos 1960, os primeiros casos norte-americanos surgiram na ilha de Nantucket, e a doença é agora reconhecida como uma zoonose emergente e ocasional séria nos Estados Unidos.
Relatos, informam que a doença foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1983, no estado de Pernambuco. Desde então, foram registrados outros casos no país, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Transmissão
A transmissão ocorre quando um carrapato infectado pica um animal sadio e, consequentemente, acaba inoculando o hematozoário causador da piroplasmose na corrente sanguínea do cão. A partir desse momento, entra na corrente sanguínea do animal e, enfim, o protozoário penetra nas hemácias (glóbulos vermelhos do sangue).
Já que o protozoário de alimenta dos nutrientes das células e continua se reproduzindo nelas, provoca, com o tempo, uma ruptura das paredes celulares, distribuindo mais agentes no sangue.
Os sinais clínicos, no entanto, dependerão do grau de infestação e de evolução do quadro. Assim que um cachorro é infectado a doença ainda pode levar meses para aparecer, ou seja, um cachorro pode estar infectado pelo protozoário da babesiose sem sinal nenhum da doença, porém, no momento em que sua imunidade cair, a doença se manifestará.
Sinais Clínicos
Os principais sintomas são: anemia, perda de apetite, febre, mucosas pálidas ou ictéricas (amareladas), prostração, problemas na coagulação sanguínea.
Quando detectada no início, através de exames laboratoriais, a babesiose pode ser tratada mais facilmente. No entanto, quando detectada tardiamente, ou seja, quando o animal já parou de se alimentar, o tratamento pode ser mais difícil. De fato, poderá ser necessária a internação do cachorro para alimentação por sonda e, inclusive, a transfusão sanguínea em casos de anemia severa.
Hepatozoonose
Enfim, a última das três doenças do carrapato mais comuns em cães.
A Hepatozoonose é uma doença descrita em vários países. Assim como a Babesiose, também é causada por um protozoário. No entanto, nesse caso, o responsável é o Hepatozoon canis (H. canis), que acomete principalmente os carnívoros domésticos.
A hepatozoonose canina foi descrita pela primeira vez em 1906 na Índia, causada pelo
microorganismo na ocasião chamado Leukocytozoon canis, hoje conhecido como Hepatozoon.
Transmissão
A transmissão da doença ocorre de forma surpreendente e peculiar. De fato, para que ocorra a infecção, os cães devem ingerir o carrapato contaminado.
Isso acontece principalmente quando o cachorro sente incomodo com a presença do ectoparasita e começa a se coçar e procura arrancar o carrapato com seus dentes.
A infecção, então, é liberada dentro do intestino do animal e circula pelo sangue alcançando regiões como os gânglios linfáticos, a medula óssea, o fígado, os músculos, o baço, dentre outros.
A hepatozoonose atinge todos os tipos de cães, independente da idade, sexo ou raça. No entanto, os filhotes são mais suscetíveis pela fragilidade do sistema imunológico.
É estimado que a taxa de infecção nas áreas urbanas seja de 4,5%, enquanto nas zonas rurais a taxa pode ultrapassar os 30%. Esse problema tem se tornado casa vez mais frequente e preocupante para a Medicina Veterinária, pois para que a doença se manifeste, é preciso contar com a presença de um animal já infectado ou estados de imunossupressão.
Sinais Clínicos
Os sintomas mais comuns são febre, anorexia, perda de peso, descarga ocular, sinais de debilidade crônica e fraqueza dos membros posteriores. Além disso, o animal pode manifestar diarreia hemorrágica, febre, apatia, problemas de apetite e dificuldades para se movimentar devido a dores musculares.
Não existe, no entanto, um medicamento específico para o tratamento dessa doença do carrapato. O veterinário deverá, portanto, avaliar o estado geral do animal antes de optar por um protocolo, já que o estado geral dos órgãos vitais deverá ser considerado. Em casos mais graves, pode ser necessária uma transfusão de sangue.
Como prevenir e evitar a doença do carrapato
Sem dúvida, a prevenção é imprescindível. Para isso, os proprietários de cães e seus veterinários devem trabalhar em conjunto para proporcionar um controle eficaz de carrapatos no meio ambiente e no paciente canino.
O controle de carrapatos não deve ser focado apenas no animal. Deve-se ter em mente que este artrópode permanece também no meio ambiente. Portanto, são necessárias diferentes medidas para evitar infestações e infecções indesejáveis.
Verificação do Ambiente
Como vimos anteriormente, presença de carrapatos no ambiente não é necessariamente sinônimo de falta de higiene. Isso porque o carrapato é um animal que resiste a produtos de limpeza convencionais.
Por isso, é necessário verificar frequentemente as frestas e cantos da residência e área externa da casa promovendo higienização periódica e desinsetização.
Além disso, ao passear com seu cachorro, evite locais com acúmulo de mato.
Cuidados com o animal
Primeiramente, recomenda-se o uso periódico de repelentes e acaricidas. Os cães podem se beneficiar de acaricidas e repelentes administrados tanto sistêmica quanto aplicados sobre a pele.
Uma preocupação com acaricidas sistêmicos é que o carrapato precisa picar a fim de ser exposto ao ingrediente ativo.
No entanto, a recente introdução de acaricidas sistêmicos altamente eficazes tem resultado na reconsideração desta opção para reduzir a exposição à doença transmitida por carrapato e, de fato, os acaricidas sistêmicos têm demonstrado bloquear efetivamente a transmissão de B. canis.
Para isso, são recomendados produtos encontrados facilmente em pet shops como coleiras repelentes, produtos top spot e, principalmente, comprimidos.
No entanto, como cada animal tem uma particularidade e possível sensibilidade, recomendamos que converse com seu médico veterinário de confiança para escolher a melhor forma de prevenção para seu cachorro.